A mãe terra também é mãe das crianças

Influência e inspiração: Documentário “O Começo da Vida 2 — Lá Fora”, Netflix

Rafaela Rita de Oliveira
3 min readMar 20, 2023

Em 2012, a União Internacional da Conservação da Natureza publicou uma resolução sobre o direito das crianças a natureza. Além disso, na Declaração Universal dos Direitos da Criança publicada pela UNICEF (1959), o Princípio VII garante o acesso da criança ao lazer, associado à Educação.

As crianças, como todo ser humano, são biologicamente unas com o meio, e unas umas com as outras. O maior órgão do corpo humano é revestido de pelos sensíveis ao vento e ao frio. Embaixo da pele há glândulas que produzem suor quando estamos rodeados por uma alta temperatura. Evolutivamente, mulheres adquiriram uma quantidade saudável de gordura na região abdominal para proteção do sistema reprodutor. Nossos ossos ficam quebradiços e fracos quando não recebem as vitaminas que necessitam. Tudo que existe em nós é natureza e precisa de natureza. O ser humano é natureza (uau!).

Para Spinoza (2009), os seres são modos de expressão da natureza que afetam e que são afetados, e a capacidade humana de perseverar relaciona-se com a capacidade de realizar bons encontros, encontros que unem vidas. Participamos da natureza na medida em que existimos com nossos corpos e pensamos com nossa alma, que percebemos outro corpo quando ele nos afeta e que percebemos nosso corpo quando ele é afetado (Tiriba, 2019).

O documentário “O Começo da Vida 2 — Lá Fora” tem como ponto principal a vida contemporânea e a urbanização. Sabe-se, que nas cidades as áreas de lazer são restritas, destaca-se especialmente a carência de áreas verdes.

“Hoje em dia uma cidade que consegue retornar a rua para uma criança significa que ela tem um índice de violência menor, tem um espaço publico entre a passagem de carro e o lazer.” — Lais Flury, Instituto Alana

É evidente que o índice de violência urbana aumenta progressivamente, concomitante a isso se expande cada vez mais a própria cidade. No documentário, várias mães e pais são entrevistados e a maioria deles é contra a ideia de seus filhos brincarem na rua e em espaços abertos.

No documentário é mostrado o caso de uma criança que apresentava baixo rendimento escolar, associado com desatenção. Havia passado por inúmeros profissionais e nunca conseguiu um diagnóstico certeiro. Em uma das tentativas, a profissional orientou, como estava perto das férias, que os pais incentivassem o filho a brincar ao ar livre todos os dias. Após 1 mês, ao voltar para a escola, o rendimento da criança melhorou significativamente.

Há evidências de que uma criança que cresce em contato com a natureza apresenta um melhor desenvolvimento cognitivo e socioemocional. Os principais especialistas no tema mostram como essa conexão pode fazer parte da cura para os maiores desafios da humanidade contemporânea e da construção de uma vida de mais bem-estar e felicidade.

“Bebês estão chegando no mundo, descobrindo a vida. A natureza é o melhor e maior laboratório de experimentação para esses pequenos cientistas. Investir em áreas públicas, abertas, que promovam movimentos, provoquem os sentidos e facilitem encontros diversos, é o caminho ideal para o desenvolvimento integral. Este filme nos enriquece com as evidências dessa importância”. Cláudia de Freitas Vidigal, Fundação Bernard Van Leer

São muitos fatores que se tornaram um obstáculo para a reinserção de muitas crianças urbanas ao meio natural. Infraestrutura, territórios empresariais, violência, poluição, tecnologia, e outros que o documentário desenvolve.

Que mundo bonito seria se os pequenos voltassem a sujar as mãos na lama e subir nas árvores.

“Não ir em um lugar na natureza, mas viver na natureza” — Autor desconhecido

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