Os ensinamentos de Bell Hooks em “Tudo sobre o Amor”

Rafaela Rita de Oliveira
3 min readDec 27, 2022

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Essencial, atemporal e revolucionária

Bell Hooks de fato apontou novas perspectivas sobre o tema do amor e suas abrangências. Um livro sobre amor pode, no imaginário popular, remeter-se à romance, como esses best-sellers norte americanos. Nunca pensariam em amor pela esfera política e social. Mas Bell fez isso.

De início, a autora explicita a importância de estabelecermos uma definição clara de amor:

uma combinação de cuidado, compromisso, confiança, sabedoria, responsabilidade e respeito.

A definição de amor como uma atitude e não como um sentimento, uma completa abstração, abre caminhos para estendemos o amor para nossos hábitos diários e compromissos sociais. Além disso, uma definição clara nos ajuda a identificar quando trata-se de amor e quando não.

O amor na infância

A autora realiza apontamentos extremamente fundamentais acerca da infância. Definindo-a como a nossa primeira e verdadeira “escola do amor”, Bell Hooks enfatiza a importância de uma criação amorosa e acolhedora:

Nós aprendemos sobre o amor na infância. Seja nosso lar feliz ou problemático, nossa família funcional ou disfuncional, é essa a primeira escola do amor.

Desde a vida intraútero, o elo mãe-filho se estabelece. O feto reconhece a voz da mãe, e quando nasce, conforme seu desenvolvimento, responde à olhares, interações, sons e gestos. O amor nos conecta desde o princípio.

Da mesma forma, quando essa relação é turbulenta, cria-se espaço para confusões sobre a definição do amor ou sua existência:

“No início da adolescência, quando apanhávamos e nos diziam que essas punições eram “para o nosso próprio bem” ou “estou fazendo isso porque te amo”, meus irmãos e eu ficávamos confusos. Por que uma punição severa era um gesto de amor? Como fazem as crianças, fingíamos aceitar essa lógica dos adultos, mas sabíamos em nosso coração que isso não estava certo. Sabíamos que era mentira. Tal como a mentira que os adultos contavam logo depois dessas punições tão duras: “Dói mais em mim que em você”. Nada cria mais confusão em relação ao amor no coração e na mente de crianças do que punições duras e/ou cruéis aplicadas pelos mesmos adultos que elas foram ensinadas a amar e respeitar.”

Há uma facilidade gigante em achar adultos e adolescentes que possuem uma confusão sobre o significado do amor, fator que reflete em suas relações e atitudes.

“As crianças escutam que são amadas, embora estejam sendo abusadas.”

Onde o desejo de poder é primordial, o amor estará ausente

Bell Hooks dedica boa parte de sua obra para enfatizar essa afirmação. Ela exemplifica sua tese tendo como base o patriarcado e, por muitas vezes, desejo masculino de ser o dominador em suas relações, como parte de uma cultura machista.

“A criança ferida dentro de muitos homens é um menino que, da primeira vez que falou suas verdades, foi silenciado pelo sadismo paterno, por um mundo patriarcal que não queria que ele reivindicasse seus reais sentimentos. A criança ferida dentro de muitas mulheres é uma menina que foi ensinada desde os primórdios da infância que deveria se tornar outra coisa que não ela mesma e negar seus verdadeiros sentimentos, para atrair e agradar os outros.”

O amor-próprio

A autora nos conta que o amor próprio consiste em viver conscientemente, buscar a autoaceitação, a autoafirmação e a autorresponsabilidade.

Essa forma de amor poderosa e promissora encontra inúmeros obstáculos de estabelecer-se na mulher que se encontra inserida em uma cultura machista.

“A socialização machista ensina às mulheres que a autoafirmação é uma ameaça à feminilidade. Aceitar essa lógica equivocada prepara o terreno para a baixa autoestima.”

Bell Hooks ainda destaca conceitos como o trabalho, religiosisade/espiritualidade, amizade, morte e como esses assuntos se relacionam com a tarefa de amar.

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Particularmente, esse livro se tornou um dos meus preferidos. O amor transforma vidas e deve ser democrático e tratado com a importância que merece.

“A ausência de debate público e de políticas públicas relacionadas à prática do amor em nossa cultura significa que ainda precisamos nos voltar para os livros como uma fonte primária de sentido e orientação”. — Bell Hooks

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